
Nossos filhos, não tão nossos
Sou pai de uma pré-adolescente de 12 e de um menino de 10. Apesar das diversas atividades e eventos com amigos, eles ainda “são meus”. Estamos juntos na maior parte do tempo. Fazemos programas e viagens juntos. Seus pais (minha mulher e eu) ainda são a referência mais forte e central em suas vidas.
Nossos filhos, se Deus assim permitir, caminham para longe de nós. É o curso natural da vida. Conquanto os meus ainda “sejam meus”, sinto, conforme eles demonstram mais segurança, coragem e autonomia, que eles dão os primeiros passos de suas próprias jornadas. É um aprendizado silencioso e já saudoso: o de que o amor e o cuidado verdadeiros libertam, e que essa liberdade com autonomia é a maior herança que podemos lhes oferecer.
Desejo que descubram seus talentos e vocações, que conheçam o sabor de sonhar e conquistar, de criar, de transformar a realidade. Torço para que falhem, reconheçam seus erros e aprendam com o processo. Não desejo que sofram, mas muito pouco poderei fazer para deles afastar essa dolorida dimensão da condição humana. E rezo para que eles jamais percam a capacidade de sentir e de perceber o outro, na sua expressão mais ampla.
A vida é um eterno reiterar de ciclos: assim como meus filhos caminham para a autonomia, eu também fui, um dia, a despedida de meus pais, e eles dos seus, e assim sucessivamente. Salvo os imponderáveis da vida, há uma continuidade silenciosa entre as gerações, que se revela nas histórias contadas, nas lembranças preservadas e, principalmente, nos valores transmitidos.
Por isso, ao concluir estas linhas, guardo comigo a convicção de que o maior legado não está nos bens que acumulamos, mas na coragem de preparar quem amamos para viver plenamente. O amor e o cuidado que libertam, a autonomia que fortalece e a memória que acolhe formam o fio invisível que conecta as gerações, perpassando o passado, o presente e o futuro.
O autor é Leonardo de Campos Melo, advogado especialista em contencioso judicial e administrativo estratégico e em arbitragem, e Sócio-fundador do escritório LDCM Advogados – leonardo@ldcm.com.br
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